O que eu gosto destas clientes...NOT! #48
Uma cliente entra com o neto pela mão. O menino deveria ter uns 5 anos, talvez. Loiro de cabelo curtinho e com uns calções azul marinho e uma t-shirt do homem aranha vestido. Não havia margem para duvidas: ele era um menino. Mas mesmo que houvesse, o facto de a Sra estar sempre a dizer "não mexas ai Tomás" ajudaria logo a dissipa-las.
Nós, na montra - que não é fechada - temos uma espécie de degraus. No degrau mais baixo colocamos os adereços para a montra - manequim, expositores, etc - e no degrau mais acima deixamos livre para as pessoas que vêm a acompanhar poderem sentar-se ou para quem quer provar o calçado poder fazê-lo de forma confortável.
Quando as pessoas vêm com crianças rara é a vez que não as mandem ficar ali sentados quietinhos. O problema é mantê-los quietinhos com tanta coisa gira atrás deles para mexer. Eu estou sempre especialmente atenta para ver se eles não mexem na manequim porque ela é frágil e se cair é bem capaz de de estragar e magoar quem está por perto.
Como seria de esperar este menino também foi mandado sentar naquele degrau. Como seria de esperar, também ele quis mexer nas coisas da montra.
- Não toques ai querido. A menina cai e fazes dói-dói!
Quando disse a menina, falava obviamente da manequim. À muito que optei por dizer menina quando falo com crianças porque é mais fácil eles perceberam do que é que eu estou a falar e, ao mesmo tempo, acho que ficam com medo de magoar uma menina e param quietos. Grave é quando os adultos não percebem que estamos a falar sobre a manequim e não sobre a criança, como foi o caso desta cliente:
- Menina? Menina?! Não vê que é um rapaz? Olhe lá bem para ele, é um rapaz! Não vê?!
Nunca vi ninguém tão ofendido com uma coisa que nem era real. Ainda tentei explicar-lhe mas a cliente ficou tão furiosa que nem sequer me estava a dar ouvidos