Pareço assim tão irresponsável?
Hoje a Leonor foi levar uma vacina. Por uns segundos passou-me pela cabeça a estúpida ideia de perguntar à enfermeira se haveria mais alguma coisa que eu pudesse fazer para que a expectoração passasse:
- Ela anda tão entupidita...
- Pois, e este tempo não ajuda em nada.
- O tempo e a teimosia dela. Não toma os xaropes porque são doces, não toma as gostas porque são amargas, não acha piada nenhuma aos aerossóis ou ao soro e esperneia por todo o lado...
- Mãe, ela não tem quereres! Você tem que fazer o que é melhor para ela! Ela vai espernear, vai chorar, vai gritar. É normal, mas tem que insistir! Não há mais nada que possa fazer, por isso tem que ter paciência, dar-lhe colo e atenção e insistir!
- Sim, eu sei e é o que eu tento fazer mas...
- Não há mas, nem há tentar. Tem que fazer porque ela não tem quereres!
Então mas a enfermeira acha que eu não faço as coisas para ela melhorar? Faço tudo o que os médicos me dizem e muito mais! Mas não posso partir-lhe um braço para que ela fique quieta quando tento fazer-lhe o soro ou os aerossóis. Também não posso arrancar-lhe um maxilar para conseguir fazer com que ela abra a boca, tome a medicação e não a mande fora logo a seguir!
Ela não tem quereres? Talvez não, mas tem a capacidade de cuspir, de se virar com toda a força que aquele corpinho possui e de chorar até que o final da rua ouça! Tem toda essa capacidade e manifesta-a sem qualquer pudor assim que vê a seringa com o soro ou a colher do xarope ou até mesmo a mascara dos aerossóis...
Quero que a minha filha melhore? Claro que sim, mais do que qualquer coisa neste mundo! E farei o que for preciso para que isso aconteça, tal como tenho feito até agora. Só não quero é magoa-la mais para que isso aconteça...
Acho que já basta ela ter dificuldade em respirar, não?