O que eu gosto destas clientes...NOT! #22
Em tempos ouvi alguém dizer que se for para chegar a velho e não poder ter o "direito" de ser rezingão, preferia nem sequer chegar a velho. Na altura lembro-me que concordei com esta afirmação. Contudo, regularmente cruzo-me ou recebo aqui na loja algumas velhas que abusam deste "direito" e me fazem discordar desta afirmação no imediato.
Tal aconteceu ainda agora aqui na loja com uma Sra de uns 80 anos, talvez.
A Sra entrou e, como faço com todos os clientes, cumprimentei-a com um "Bom dia" e um sorriso tão simpático quanto me é possível. Ela olhou para mim e voltou a olhar para a roupa sem sequer me responder. Entretanto diz algo entre dentes que eu não percebi.
- Precisa de ajuda?
- Não. Estou a falar sozinha. Deixe-me estar!
Nem lhe dirigi mais palavra nenhuma. Deixei-a ficar a ver o macacões de tecido e só voltei a falar para ela quando ela falou diretamente para mim.
- Estes são atados nas costas, não gosto! E estes têm vermelho. Têm todos vermelho. Não sabem fazer nada sem ser em vermelho.
Convínhamos que não estava a ver aquela Sra com um macacão vestido mas se ela queria ficar à vontade nem sequer lhe disse nada. Mesmo estando ela a ver vermelho onde não existia. Rosas e laranjas sim, vermelho não.
- Não tem calças neste tecido? Em vez disto?
- Tenho. - e agarrei em dois modelos em azul. Um mais colorido e outro mais simples. - Tem aqui.
- Este também tem vermelho! Não quero nada com vermelho!
- Não é vermelho, é laranja.
- É tudo a mesma coisa! Se morrer alguém da minha família não vou usar mais isto!
Confesso que ao ouvir isto tive um pensamento demasiado maldoso para verbalizar. Acabei simplesmente por guardar o modelo e focar-me no outro mais simples, com cores mais discretas.
- Tem este. É azul e bege. Consegue usa-lo em qualquer altura...
- Só tem estes dois?
- Não, tenho mais. - e comecei a tirar os outros modelos para fora, ignorando a existência de qualquer um que tivesse vermelhos, rosas, laranjas, bordos ou qualquer outra cor derivado destas.
- Tantos! Agora nem sei qual quero. Se calhar nem levo nenhum!
Novamente pensamentos demasiado maldosos para verbalizar
Lá agarrou num modelo com riscas horizontais alternadas entre azul e preto. E, depois de muito medir, olhar, puxar e reclamar, trouxe-o para o balcão.
- Eu tenho aqui umas calças minhas. Nunca tenho paciência para provar, por isso veja lá por estas se a cintura é a mesma!
Azar, não era. As dela eram muito mais pequenas. Fui à procura de um tamanho mais pequeno daquele modelo e voltei a medir.
- Tem quer ser estas. - ao mostrar-lhe que aquelas é que tinham a cintura igual as dela.
- Gostava mais daquela.
- É igual. Só muda o tamanho.
- Você pensa que me engana? Olha-se e vê-se logo que não é o mesmo!
- O desenho é o mesmo. As cores são as mesmas. As riscas não estão exatamente no mesmo sitio nas duas calças porque foi onde cortaram para fazer o modelo. Mas o tecido é o mesmo, por isso as cores e o desenho é igual.
- Não, você não me engana! Eu sou velha mas não sou burra. Vê-se logo que não é a mesma coisa! Se não tem igual a esta não quero nada. Tenho lá muitas destas calças em casa por isso não preciso. Se não for para levar as que gosto prefiro não levar nada.
E lá foi ela embora.
Só me pergunto se pessoas assim entram numa loja com o objetivo de comprar ou vêm já só mesmo com vontade de chatear e reclamar de tudo.