The Cherry

Se eu recebesse uma moeda de 1 cêntimo - a sério, nem era preciso mais! - por cada pessoa que reclama que já não há escolha ou que não temos o tamanho que procura ou a cor que quer, era uma mulher rica. E por cada pessoas que vem à procura de coisas que nem sequer chegaram aos saldos porque queriam comprar mais barato?

Ai, era só a cair moedas por aqui! 

Tenham dó! Nós estamos em saldos desde o dia 26 de Junho. Embora muita coisa tenha chegado à loja diretamente para os saldos, é normal que nesta fase já comece a haver um pouco menos de escolha. Principalmente no que toca a tamanhos de calças ou de calçado. Acho que é perfeitamente normal, ou não? 

Tinha uma única cliente dentro da loja. Daquelas chatinhas que só querem custar a nossa vida e revirar loja e meia e, no fim, não levam nem um par de brincos, sabem? Como eu não estava interessada em contar-lhe pormenores da minha vida e sabia que ela não me queria comprar nada, comecei a andar pela loja a compor as peças e a organizar o que estava fora do sitio.

Entretanto, na rua, passou uma Sra. Estava a atravessar a estrada e disse bom dia alto. Não sei para quem é que se estava a dirigir e, sinceramente, até acho que não era para mim porque eu não reconheci a Sra. No entanto, não fosse alguma cliente que eu não me lembrasse, sorri e acenei.

No imediato, ainda estava eu com o braço no ar, a cliente que estava dentro da loja diz-me "a Sra estava a dizer-lhe bom dia, não responde?"

Sinceramente, a cliente pensava que eu estava com o braço no ar, porquê? Estava a fazer alongamentos?!  ainda assim respondi-lhe.

- Não sei se era para mim mas de qualquer das formas disse-lhe adeus, não viu?

- Ai, de certeza que era para si. Para quem seria?

O que eu gosto das clientes que pensam que tudo gira à volta daqui da loja - e de mim, já agora  

 Olhem só o que me ofereceram hoje  com o pormenor do S e tudo 

Nem sabia que os sabonetes da Dove cheiravam tão bem 

Sou uma mimada por estas clientes 

Uma cliente entra e fica a ver os artigos. Logo a seguir entra outra cliente, já mais idosa, a queixar-se que está muito calor e que até está tonta. Eu ofereço-lhe de imediato um banquinho para se sentar e descansar um pouco. Ela aceita, senta-se mesmo junto ao balcão e mantém-se a olhar para as peças à distancia.

Passados uns minutos, a primeira cliente decide-se por uma blusa e pede para fazer o embrulho enquanto vai levantar dinheiro. É precisamente nesse instante que a segunda cliente se levanta, como se nada se passasse, e começa a pedir atenção por causa de uma troca que vinha fazer.

Eu peço-lhe para aguardar um pouco enquanto finalizo a oferta da primeira cliente e que, enquanto espera, se quisesse, poderia ir vendo o que quer levar em troca. 

Juro, nunca vi ninguém mudar de discurso tão rapidamente! "Ai menina, não. Eu espero. Eu espero. Estou tão cansada que até me custa a respirar. Este calor dá cabo de mim." Eu digo que não há problema, que se quiser manter-se sentada enquanto aguarda está à vontade e continuo a fazer o embrulho.

Entretanto a primeira cliente volta do multibanco. Assim que se chega ao balcão para fazer o pagamento, a segunda cliente interrompe-a logo: "menina, não se esqueça de mim!"

A sério, qual é a urgência? Ela achava mesmo que seria esquecida, principalmente estando tão colada ao balcão? É que mesmo que eu conseguisse esquecer-me dela, bastava-lhe mexer um pouco a cabeça e batia de imediato na tampa do portátil. Era certo que ai eu dava por ela sem precisar de fazer mais nada...